Pretendo aqui falar um pouco do estresse negativo. Aqui
você pode conferir um pouco sobre o estresse positivo (eustress). Que o
estresse negativo, também chamado de distress,
é um dos vilões do mundo moderno ninguém duvida. No contexto do trabalho
não é diferente: Uma pesquisa recente nos Estados Unidos conduzida pela
Universidade de Harvard mostrou que 44% dos adultos empregados afirmam que seu
trabalho afeta sua saúde. No Brasil, um estudo com profissionais das áreas de
finanças, indústria e saúde de São Paulo e Porto Alegre revelou que 69% dos
participantes disseram que o estresse no trabalho era a maior fonte estressora,
afetando qualidade de vida e saúde.
As repercussões são inúmeras. Profissionais estressados
sofrem com problemas de humor, irritabilidade, tristeza, falta de energia, perda
de concentração. No corpo físico, dores, tensões e distúrbios
musculoesqueléticos são mencionados como consequências do estresse no trabalho por
profissionais da saúde e pesquisadores. Importante lembrar que o estresse não pode
ser confundido com emoções, um estado de raiva ou frustração que frequentemente
vivemos. O estresse enquanto condição de saúde, possui múltiplas causas que se
interagem em uma intrincada rede de associações.
O estresse no trabalho decorre do desequilíbrio entre
as exigências e pressões temporais e a perda de autonomia. Quando a pressão interna
(ex: superiores) ou externa (ex: mercado de trabalho) é alta e o profissional vê
a sua autonomia e poder de decisão limitados, temos as condições “perfeitas”
para iniciar um processo de estresse no trabalho. Se o profissional não contar
com um ambiente relacional saudável, a situação pode ainda piorar. A resultante
é a rápida deterioração da saúde física e mental e aumento na chance de ausência
do trabalho por motivos de saúde.
Uma mudança quase imperceptível ao senso comum tem
contribuído para aumentar o estresse no trabalho. Com o advento da tecnologia
digital, tornou-se mais difícil equilibrarmos lazer e vida profissional. Essa
cultura do "conectado 24 horas" ─ exacerbada pelo smartphone ─ está
nos deixando mais estressados e menos produtivos, indicam estudos. Cary Cooper,
pesquisador americano sobre a relação entre e-mail e estresse no trabalho, disse
à BBC que “cerca de 40% das pessoas acordam e a primeira coisa que fazem é
checar seus e-mails”. "Para outros 40%, [checar e-mails] é a última coisa
que fazem à noite."
Nos tempos de hiperconectividade, enviamos e recebemos
uma avalanche de informações, quase sempre em tempo real. Esse pseudo controle
que temos sobre a nossa vida e o mundo acaba por gerar uma sobrecarga cerebral.
Tal situação está se tornando cada vez mais comum entre nós. Quase sempre, não
percebemos o limite individual. Quando esse limite é ultrapassado, nos
tornamos, ao mesmo tempo, comandantes e comandados dessa tentativa de controlar
o mundo ao nosso redor. Mas o corpo (físico e mental) tem seus próprios
limites. Então, “estressamos” com o nosso próprio limite. Talvez pensando
nisso, algumas empresas nacionais e internacionais, têm controlado o uso
abusivo de e-mails profissionais e excesso de horas extras no trabalho.
O que fazer então? Cabe um esforço da sociedade (e dos
indivíduos) para melhorar o autoconhecimento. As comunidades modernas tendem a
abandonar as análises mais profundas e tratar os transtornos mentais com
medicação. Mas, do ponto de vista neurológico, o que faz a diferença é o nosso
cérebro. Já dizia o filósofo: “Conhece-te a ti mesmo”. Esse assunto ainda é um
tabu nas empresas. É preciso desenvolver uma cultura corporativa que englobe a
saúde física e emocional — e isso significa comprometimento da alta gestão em
discutir o estresse nos processos de trabalho, suas repercussões sobre os
trabalhadores e estratégias de prevenção que se conjuguem com a produtividade e
qualidade do serviço.